sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Um pouco sobre a esquistossomose!


  “Doenças negligenciadas” referem-se a doenças causadas por parasitas ou agentes infecciosos, como a esquistossomose, doença de chagas, leishmanioses etc. Esse termo data da década de 70 e tomou como base o fato de que essas enfermidades não despertam o interesse das grandes indústrias farmacêuticas, principalmente para a fabricação de medicamentos e vacinas. Isso porque são doenças que afetam principalmente a população pobre, de baixa renda, que não tem condições de comprar remédios, logo não geraria lucro para as farmácias. Além disso, não são fornecidos recursos suficientes para o desenvolvimento de pesquisas sobre essas doenças, gerando assim escassez de métodos de profilaxias disponíveis em todo o mundo!

      Nessa última postagem, falaremos sobre a Esquistossomose, doença essa que atinge muitas pessoas por ano e que acomete o fígado. Considerada a segunda doença parasitária mais devastadora do mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a esquistossomose afeta quase 240 milhões de pessoas no mundo, e mais de 700 milhões de pessoas vivem em áreas endêmicas, e no ano de 2011 infectou mais de 63 mil brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde. E como vimos acima é uma doença negligenciada, já que está diretamente relacionada às condições de vida das famílias e afeta principalmente populações socialmente vulneráveis, com baixo nível de escolaridade e renda.

       Como reflexo do panorama socioeconômico brasileiro, a região Nordeste apresenta os maiores números de infecções e óbitos por esquistossomose no país. No ano de 2011 a região registrou mais da metade dos casos da doença em território nacional, passando de 37 mil diagnósticos positivos da enfermidade, número que não passou dos 43 casos no Sul do país. Também é no Nordeste onde mais brasileiros morrem em função da doença. Segundo o Ministério da Saúde, das 524 mortes associadas à esquistossomose no Brasil em 2011, 347 foram no Nordeste. No Sul, apenas dois óbitos foram registrados, enquanto no Norte do país não houve nenhum óbito relacionado à doença.

    A esquistossomose, também chamada de bilharzíase, é uma infecção causada por um trematódeo pertencente ao gênero Schistosoma. No Brasil, esta doença é causada pela espécie Schistosoma mansoni  e tem como seu hospedeiro definitivo o homem, necessitando de um hospedeiro intermediário, o caramujo, para completar seu ciclo evolutivo. A doença chegou às Américas Central e do Sul provavelmente com os escravos africanos e ainda hoje atinge vários estados brasileiros, principalmente os do Nordeste.

        A infecção ocorre quando a pele entra em contato com a água doce contaminada com o parasita. Quando uma pessoa infectada urina ou defeca na água, ela contamina o líquido com os ovos de Schistosoma. Esses ovos eclodem e invadem os tecidos de caracóis que vivem naquele lago ou rio. Os parasitas então crescem e se desenvolvem no interior dessas lesmas. Após crescerem, os parasitas deixam o caracol e penetra na água, onde podem sobreviver durante cerca de 48 horas. O Schistosoma é capaz de penetrar na pele de pessoas que pisam descalças, nadam, tomam banho ou lavam roupas e objetos na água infectada. Dentro de algumas semanas, os vermes crescem no interior dos vasos sanguíneos do corpo e produzem ovos. Alguns desses ovos viajam para a bexiga ou intestinos e são passados para a urina ou fezes.

         A doença apresenta a fase aguda e a crônica. Nesta primeira fase, podem aparecer coceiras e dermatites, febre, inapetência, tosse, diarréia, enjôos, vômitos e emagrecimento. A segunda fase (crônica), geralmente apresenta-se assintomática, podem ocorrer episódios de diarréia, alternando-se com períodos de constipação, podendo haver a evolução para um quadro mais grave, com hepatomegalia (fígado aumentado), cirrose, esplenomegalia (aumento do baço), hemorragias derivadas do rompimento de veias esofágicas, e ascite (acúmulo de líquido na região abdominal). Esta ascite é popularmente chamada de barriga d’água.
 A esquistossomose é diagnosticada através da detecção de ovos do parasita nas fezes ou urina do paciente, bem como a detecção do parasita no sangue. Os testes a serem realizados incluem:
  • Teste de anticorpos para verificar sinais de infecção
  • Biópsia do tecido
  • Hemograma completo para verificação de sinais de anemia
  • Contagem de eosinófilos para medir o número de determinadas células brancas
  • Testes de função renal
  • Testes de função hepática
  • Exame de fezes para observar ovos de parasitas
  • Urina tipo I para observar ovos do parasita.
        E como tratamento para a doença há o uso de medicamentos específicos que combatam o Schistossoma mansoni. Uma nova droga quimioterápica, o hicantone, já se mostrou eficaz para curar a doença na grande maioria dos casos.

         No entanto, educação sanitária, saneamento básico, controle dos caramujos e informação sobre o modo de transmissão da doença são medidas absolutamente fundamentais para prevenir a doença.

     Logo, para construir um novo cenário da doença no país é preciso a interação de diversos setores do serviço público e o grande desafio na erradicação da doença no Brasil é conseguir canalizar as atenções para este problema. Além da indispensável atenção de saúde, é importante congregar as ações e viabilizar condições de vida mais adequadas, que favorecem a vivência de uma realidade mais equânime na saúde coletiva no Brasil. É necessário também que as secretarias municipais de Saúde dos municípios localizados em áreas endêmicas implementem a busca ativa dos casos com a realização de exames de fezes na população, tratamento dos casos positivos, identificação dos focos de transmissão onde existem caramujos infectados, além realização de atividades de educação em saúde para as populações de risco.



FONTES:



8 comentários:

  1. As doenças negligenciadas afetam quase que exclusivamente as pessoas pobres e impotentes que vivem nas áreas rurais de países de baixa renda. Para a negligência é o “assim chamado intervalo 10/90, que se refere ao fenômeno pelo qual apenas 10% dos recursos de pesquisa em saúde estão concentrados em 90% do conjunto de doenças globais”.
    Doenças que ocorrem principalmente entre as comunidades pobres que vivem em países em desenvolvimento atraem particularmente pouca pesquisa e desenvolvimento. O mecanismo do mercado, que determina a pesquisa e o desenvolvimento, deixa de atender às chamadas “doenças negligenciadas” já que elas não prometem bom retorno sobre os investimentos.
    Grande parte da pesquisa e do desenvolvimento concentra-se em medicamentos que tratam condições crônicas contínuas, como doenças de coração ou colesterol alto (como o uso de estatinas no controle dos níveis de gordura do sangue, atuando no bloqueio enzimático durante a tranformação de HMG-CoA em mevalonato, na síntese de colesterol), em detrimento de curas e vacinas que não têm o mesmo potencial contínuo de mercado.
    Considerada a segunda doença parasitária mais devastadora do mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a esquistossomose infectou mais de 63 mil brasileiros no ano de 2011, segundo dados do Ministério da Saúde. Popularmente conhecida como barriga d’água, a doença está diretamente relacionada às condições de vida das famílias e afeta principalmente populações socialmente vulneráveis, com baixo nível de escolaridade e renda. A esquistossomose compõe uma lista de doenças negligenciadas, que estão diretamente relacionadas à pobreza, assim como a Doença de Chagas e o Tracoma.
    É necessário que as secretarias municipais de Saúde dos municípios localizados em áreas endêmicas implementem a busca ativa dos casos com a realização de exames de fezes na população, tratamento dos casos positivos, identificação dos focos de transmissão onde existem caramujos infectados, além realização de atividades de educação em saúde para as populações de risco.
    É imprescindível o fortalecimento das pesquisas nacionais acerca da busca pela cura de doenças tropicais, intensificando-se os investimentos privados ou do setor público, em prol do desenvolvimento de vacinas e medicamentos para sanar uma lacuna histórica e contemporânea de atraso, viabilizando uma maior consistência e integralização do Sistema Único de Saúde.

    FONTE:
    www.sanguebioquimico.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Foi um prazer ter compartilhando conhecimento com você!!

      Excluir
  2. Dráuzio Varella destaca o cunho capitalista e comercial das indústrias farmacêuticas que produzem apenas dinheiro, e produzem este dinheiro nas mais distintas modalidade e de acordo com a moda, ou seja, onde não há quem compre ou por muito pouco não há produção...
    É revoltante saber que pessoas em vulnerabilidade social, estão sujeitas aos mais diversos processos patológicos e que não há um tratamento de cura ou um tratamento mais eficaz que possa restabelecer condições saudáveis novamente.
    Nesse cenário de doenças negligencias como tuberculose, hanseníase, dengue, malária, doença de Chagas, leishmaniose e esquistossomose, o governo tenta assegurar o acesso ao tratamento de cura ou paliativo à estes indivíduos portadores tentando sanar a problemática. Um exemplo claro, é o tratamento de cura realizado na Atenção Básica (Equipes de Saúde da Família) de Tuberculose e Hanseníase, em que o paciente recebe as doses necessárias, podendo retornar as suas atividade normais após o término do mesmo.
    Na tentativa de evitar o problema antes que ele instale-se, o governo possui equipe dos centros de zoonoses responsáveis por fiscalizar e atuar eliminando condições propícias ao desenvolvimento das doenças, além de realizar a dedetização nas ruas eliminando mosquitos vetores de doenças, como a dengue.
    Como bem retratado no texto, a esquistossomose é uma doença que no mundo todo contamina muitos indivíduos, e pode levar até a morte, porém suas causas vão além da contaminação. Trata-se de uma causa cultural, especialmente na zona rural, em que a população desenvolveu-se em torno de rios/lagos/lagoas e inconscientemente essa população passou a contrair doenças sem saber suas causas específicas, como um simples banho em uma lagoa, que aparentemente é promoção da saúde, pela higiene pessoal, pode representar a contaminação.
    Como solução, e o governo deve fomentar a pesquisa em suas estruturas básicas (universidades), tal como propiciar a implantação de indústrias que possam atender as demandas negligenciadas, tal como atuar nos níveis mais primários de conscientização e sobre contaminação dessas patologias, assegurando o bem estar geral e coletivo.

    PARABÉNS pelo excelente blog e pela enorme contribuição na construção do conhecimento, objetivando formar profissionais capazes de dialogar acerca de temas cotidianos, com linguagem acessível, sem perder o fundamento bioquímico.

    FONTE:
    Universidade Aberta do SUS. Disponível em http://www.unasus.gov.br/noticia/fiocruz-e-ird-da-franca-vao-construir-sistema-de-informacoes-sobre-malaria Acesso 10 Dez 2014.

    ResponderExcluir
  3. A doença tem uma fase aguda e outra crônica.Na fase aguda, pode apresentar manifestações clínicas como coceiras e dermatites, febre, inapetência, tosse, diarreia, enjôos, vômitos e emagrecimento.Na fase crônica, geralmente assintomática, episódios de diarreia podem alternar-se com períodos de obstipação (prisão de ventre) e a doença pode evoluir para um quadro mais grave com aumento do fígado (hepatomegalia) e cirrose, aumento do baço (esplenomegalia), hemorragias provocadas por rompimento de veias do esôfago, e ascite ou barriga d’água, isto é, o abdômen fica dilatado e proeminente porque escapa plasma do sangue. A proposta de melhoria da qualidade de vida de populações passa necessariamente pelo controle de diversas endemias. Entre elas, situa-se a esquistossomose, que ocorre em 76 países, atingindo 200 milhões de pessoas. Além dessas, há cerca de 500 a 600 milhões expostas ao risco de infecção (CNPq, 1978; WHO, 1985). Vários autores citam a esquistossomose como uma doença complexa com variados fatores causais e ampla distribuição geográfica, motivo pelo qual a inserem no rol das doenças consideradas problemas de saúde pública. As diversas formas de organização social em uma sociedade (biótopos associados ao modo de vida, lazer, cultura, trabalho, etc.) interagem numa rede de influências que definem o perfil epidemiológico da esquistossomose (Barbosa,1968; WHO, 1985).

    http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:F67ML1K0ovQJ:www.researchgate.net/publication/26358701_Determinantes_ambientais_e_sociais_da_esquistossomose_mansoni_em_Ravena_Minas_Gerais_Brasil/links/0c96052792258e69e1000000+&cd=5&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

    ResponderExcluir
  4. O Schistosoma mansoni e/ou seus ovos causam uma hepatopatia muito importante e com aspectos anatomoclínicos bem característicos. Uma vez carregados pela corrente circulatória, os vermes podem ocluir ramos dicotômicos de maior calibre do sistema portal e, quando mortos, produzem lesões às vezes extensas, primeiro necróticas, depois inflamatórias e, posteriormente cicatriciais, sempre circunscritas e não sistematizadas. Os ovos, além de penetrarem nos ramúsculos não dicotômicos da rede periductal, alcançam os ramos de distribuição ou até mesmo as vênulas aferentes e formam os granulomas intravasculares que podem levar a uma interrupção da corrente sangüínea portal a esse nível e alterações da circulação intralobular. A diminuição da taxa de oxigênio disponível e conseqüentemente o decréscimo do pH intra e extracelular são potentes labilizadores das membranas dos diversos componentes do compartimento lisossômico. Saindo um pouco da visão bioquímica, sabe-se que esquistossomose mansoni é uma doença parasitária, causada pelo trematódeo Schistosoma mansoni, cujas formas adultas habitam os vasos mesentéricos do hospedeiro definitivo (homem) e as formas intermediárias se desenvolvem em caramujos gastrópodes aquáticos do gênero Biomphalaria. Trata-se de uma doença, inicialmente assintomática, que pode evoluir para formas clínicas extremamente graves e levar o paciente a óbito. A magnitude de sua prevalência, associada à severidade das formas clínicas e a sua evolução, conferem a esquistossomose uma grande relevância enquanto problema de saúde pública. Seus sintomas são variados, e como o blog citou incluem hepatomegalia (fígado aumentado), cirrose, esplenomegalia (aumento do baço), hemorragias derivadas do rompimento de veias esofágicas, e ascite (acúmulo de líquido na região abdominal), popularmente conhecida como barriga d’água. Interessante observar ainda, que a prevenção desta doença parte basicamente do saneamento, e que embora o Governo Federal tenha ampliado o investimento em saneamento – cerca de R$ 10 bilhões – é necessário que um montante maior seja aplicado, já que segundo alguns estudiosos para assegurar saneamento a todos os municípios brasileiros seriam necessários em torno de R$ 300 bilhões de reais, ou seja, com investimentos entre R$ 15 e R$ 20 bilhões por ano, em duas décadas, teríamos o País em condições boas de saneamento. Só melhorando o saneamento básico, valorizando a dignidade da vida humana e atuando em projetos sociais, poderá construir-se um futuro mais saudável, com o índice das chamadas doenças da pobreza, como a esquistossomose, menor, e com uma oportunidade melhor para todos, onde haja promoção de bem-estar.

    Referências:
    http://www.sbmt.org.br/site/corpo_texto/774
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86821987000300008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

    ResponderExcluir
  5. A esquistossomose é uma doença endêmica geralmente na região nordeste como citado no texto, e que afeta geralmente a população carente, devido ao contato com a agua contaminada com ovos do parasita, Segundo a Organização Mundial de Saúde, a esquistossomose afeta quase 240 milhões de pessoas no mundo, e mais de 700 milhões de pessoas vivem em áreas endêmicas. A infecção é prevalente em áreas tropicais e subtropicais, em comunidades carentes sem acesso a água potável e saneamento adequado. Vários milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de patologia grave em consequência da esquistossomose, portanto não é uma doença endêmica apenas no Brasil, ela é ligada a precárias condições de higiene, associada a pobreza nos países do Terceiro Mundo. Um dos métodos de se combater essa doença, é combatendo diretamente o caramujo africano que o hospedeiro intermediário do protozoário, os caramujos podem ser combatidos de várias maneiras diferentes: por controle biológico, químico e das condições do meio ambiente. Como seu habitat natural preferido são lugares com pouca água e correnteza, algumas medidas podem ser tomadas como drenar, aterrar ou aumentar a velocidade da água na área em que vivem. O controle biológico pode ser exercido por animais que se alimentam dos caramujos (peixes, patos, etc) e o químico pelo uso de moluscocidas.

    Referências:
    http://drauziovarella.com.br/letras/e/esquistossomose/
    http://www.minhavida.com.br/saude/temas/esquistossomose

    ResponderExcluir
  6. A esquistossomose é uma doença crônica, sendo a mais grave forma de parasitose humana por um organismo multicelular e podendo, em alguns casos, levar à morte. É mais comum em pessoas que se expõem frequentemente às águas contaminadas, em rios, córregos e lagos (ou outros reservatórios de água doce). A maioria das mortes ocorre por comprometimento hepático (do fígado) e por complicações de hipertensão no interior do sistema porta (veia que drena o sangue dos intestinos para o fígado).

    FONTE
    http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/332335/esquistossomose+o+que+e+quais+as+causas+como+evolui.htm

    ResponderExcluir
  7. No Brasil, as doenças negligenciadas também sofrem com uma disponibilidade de recursos muito aquém do necessário ao seu combate. Nesse sentido, é um desafio para a comunidade científica brasileira criar meios de se diagnosticar, tratar e superar tais doenças com os orçamentos destinados ao setor.

    ResponderExcluir