“Doenças negligenciadas” referem-se a doenças causadas por parasitas
ou agentes infecciosos, como a esquistossomose, doença de chagas, leishmanioses
etc. Esse termo data da década de 70 e tomou como base o fato de que essas
enfermidades não despertam o interesse das grandes indústrias farmacêuticas,
principalmente para a fabricação de medicamentos e vacinas. Isso porque são
doenças que afetam principalmente a população pobre, de baixa renda, que não
tem condições de comprar remédios, logo não geraria lucro para as farmácias.
Além disso, não são fornecidos recursos suficientes para o desenvolvimento de
pesquisas sobre essas doenças, gerando assim escassez de métodos de profilaxias
disponíveis em todo o mundo!
Nessa última postagem, falaremos sobre a Esquistossomose,
doença essa que atinge muitas pessoas por ano e que acomete o fígado. Considerada a segunda doença parasitária mais
devastadora do mundo pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a esquistossomose afeta quase 240 milhões de pessoas no mundo, e mais de 700 milhões de
pessoas vivem em áreas endêmicas, e no ano de 2011 infectou mais de 63
mil brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde. E como vimos acima é uma
doença negligenciada, já que está diretamente relacionada às condições de vida
das famílias e afeta principalmente populações socialmente vulneráveis, com
baixo nível de escolaridade e renda.
Como reflexo do panorama socioeconômico
brasileiro, a região Nordeste apresenta os maiores números de infecções e
óbitos por esquistossomose no país. No ano de 2011 a região registrou mais da
metade dos casos da doença em território nacional, passando de 37 mil
diagnósticos positivos da enfermidade, número que não passou dos 43 casos no
Sul do país. Também é no Nordeste onde mais brasileiros morrem em função da
doença. Segundo o Ministério da Saúde, das 524 mortes associadas à
esquistossomose no Brasil em 2011, 347 foram no Nordeste. No Sul, apenas dois
óbitos foram registrados, enquanto no Norte do país não houve nenhum óbito
relacionado à doença.
A infecção ocorre
quando a pele entra em contato com a água doce contaminada com o parasita. Quando
uma pessoa infectada urina ou defeca na água, ela contamina o líquido com os
ovos de Schistosoma.
Esses ovos eclodem e invadem os tecidos de caracóis que vivem naquele lago ou
rio. Os parasitas então crescem e se desenvolvem no interior dessas lesmas.
Após crescerem, os parasitas deixam o caracol e penetra na água, onde podem
sobreviver durante cerca de 48 horas. O Schistosoma é
capaz de penetrar na pele de pessoas que pisam descalças, nadam, tomam banho ou
lavam roupas e objetos na água infectada. Dentro de algumas semanas, os vermes
crescem no interior dos vasos sanguíneos do corpo e produzem ovos. Alguns
desses ovos viajam para a bexiga ou intestinos e são passados para a urina ou
fezes.
A doença apresenta a fase
aguda e a crônica. Nesta primeira fase, podem aparecer coceiras e dermatites, febre, inapetência, tosse, diarréia, enjôos, vômitos e
emagrecimento. A segunda fase (crônica), geralmente apresenta-se assintomática,
podem ocorrer episódios de diarréia, alternando-se com períodos de constipação,
podendo haver a evolução para um quadro mais grave, com hepatomegalia (fígado
aumentado), cirrose, esplenomegalia (aumento do baço), hemorragias derivadas do
rompimento de veias esofágicas, e ascite (acúmulo de líquido na região
abdominal). Esta ascite é popularmente chamada de barriga d’água.
A esquistossomose
é diagnosticada através da detecção de ovos do parasita nas fezes ou urina do
paciente, bem como a detecção do parasita no sangue. Os testes a serem
realizados incluem:
- Teste
de anticorpos para verificar sinais de infecção
- Biópsia
do tecido
- Hemograma
completo para verificação de sinais de anemia
- Contagem
de eosinófilos para medir o número de determinadas células brancas
- Testes
de função renal
- Testes
de função hepática
- Exame
de fezes para observar ovos de parasitas
- Urina
tipo I para observar ovos do parasita.
E como tratamento para a doença há o uso de medicamentos específicos que
combatam o Schistossoma mansoni.
Uma nova droga quimioterápica, o hicantone, já se mostrou eficaz para curar a
doença na grande maioria dos casos.
No entanto,
educação sanitária, saneamento básico, controle dos caramujos e informação
sobre o modo de transmissão da doença são medidas absolutamente fundamentais
para prevenir a doença.
Logo, para construir um novo cenário da doença no país é preciso a
interação de diversos setores do serviço público e o grande desafio na
erradicação da doença no Brasil é conseguir canalizar as atenções para este
problema. Além da indispensável atenção de saúde, é importante congregar as
ações e viabilizar condições de vida mais adequadas, que favorecem a vivência
de uma realidade mais equânime na saúde coletiva no Brasil. É necessário também
que as secretarias municipais de Saúde dos municípios localizados em áreas
endêmicas implementem a busca ativa dos casos com a realização de exames de
fezes na população, tratamento dos casos positivos, identificação dos focos de
transmissão onde existem caramujos infectados, além realização de atividades de
educação em saúde para as populações de risco.
FONTES: